O motivo para a existência do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) é a extensão territorial do país, com diferenças hidrológicas entre as regiões e períodos secos e úmidos não coincidentes. Uma região em período de seca armazena água nos reservatórios das hidrelétricas, que geram abaixo da média; enquanto outra região em período de chuva produz energia acima da média, transferindo energia entre essas regiões. Outra característica que gerou o MRE é o fato de várias usinas estarem alocadas no mesmo rio, em cascata. Para otimizar a geração do sistema interligado, nem sempre a usina deve gerar seu máximo.
Caso a produção total de energia elétrica seja maior do que a garantia física total do MRE, as usinas recebem uma parte deste excedente, chamado Energia Secundária – que é alocada em todas as usinas participantes do MRE, na proporção de suas garantias físicas. Quando não há Energia Secundária, ou seja, a produção total de energia elétrica é inferior à garantia física total, ocorre então o Ajuste do MRE – relação entre a Geração Total Agregada e a Garantia Física. Em períodos de chuva abaixo da média, como observado em 2014, essa relação resulta em um fator de ajuste que deve ser aplicado à garantia física das usinas do MRE.
Normalmente, o MRE realoca a energia entre os integrantes, transferindo o excedente dos que geraram além de suas garantias físicas para os que geraram abaixo. Em 2014, no entanto, o valor total da produção de energia elétrica está abaixo da garantia física e, em virtude disso, as geradoras ficaram expostas no Mercado de Curto Prazo (MCP), cujas exposições são valoradas ao PLD.
A Comerc desenvolveu, a pedido do jornal O Estado de S. Paulo, um estudo para estimar a exposição das geradoras em função do ajuste do MRE (GSF – “Generation Scaling Factor”). Desde o início deste ano, as geradoras hidrelétricas somam um déficit de R$16,1 bilhões com a compra de energia no curto prazo, para garantir o volume de abastecimento que as usinas hidrelétricas devem entregar ao SIN. No primeiro semestre, a conta já somava R$6,5 bi; e somente para o terceiro trimestre deste ano, deve pular para R$9,6 bilhões, segundo estimativas da Comerc.
- O gráfico acima mostra como a geração (curva em roxo) ficou abaixo da Garantia Física (curva em azul) ao longo de 2014. A diferença aumentou a partir de maio, no início do período seco.
Quando falta Energia Secundária, como agora, as geradoras que não renovaram a concessão antecipada precisam ter fôlego financeiro para esperar o retorno das chuvas e maior geração hidráulica. As geradoras que anteciparam a renovação da concessão tiveram o risco hidrológico repassado aos consumidores, via repasse às distribuidoras.
A seguir, os cálculos realizados pela Comerc:
* Estimativa CCEE / PLD estimado para setembro de 2014