Por Aderbal Aragão (*)
O que muda no abastecimento de energia de um hospital quando ele compra no mercado livre de energia? Nada. É verdade que – tanto o setor público, quanto os próprios hospitais – redobram os seus cuidados em relação aos sistemas de segurança energética que abastecem as suas unidades. Isso faz todo o sentido uma vez que possuem uma importância crítica para a saúde da população. É comum, portanto, vermos distribuidoras priorizarem os hospitais, alocando-os nos subsistemas mais seguros de sua rede, com menos consumidores, onde o abastecimento tende a sofrer menos oscilações de tensão. No entanto, poucos sabem que os riscos de abastecimento são os mesmos, esteja a sua unidade de consumo no mercado livre de energia ou no mercado cativo. E a razão fundamental para isso diz respeito ao trajeto da energia até a unidade consumidora – em qualquer um dos dois casos. Ele é exatamente o mesmo. A energia chega, no mercado livre ou no mercado cativo, pelo mesmo fio da distribuidora local. O que difere uma unidade consumidora do mercado tradicional de energia de outra, no mercado livre de energia, é o contrato de compra da energia. No mercado cativo, a distribuidora é remunerada pela energia; no mercado livre, é diretamente a usina geradora que forneceu a energia.
Por que, então, um hospital migraria o seu abastecimento para o mercado livre de energia? Não faltam vantagens. A principal delas é a economia na conta de energia. Só a título de exemplo, as 24 unidades hospitalares que compõem a base de clientes da Comerc Energia, desde que começaram a migrar para o mercado livre em 2012, economizaram em torno de R$ 54,7 milhões até maio de 2018. É um valor expressivo que pode ser revertido em investimento na melhoria do atendimento à população. Na ponta do lápis, conforme a diferença de preços do insumo no mercado livre em comparação com o mercado cativo, a economia costuma variar entre 10% a 30% no mercado livre. E estão aptos a migrar quaisquer hospitais cujas contas de energia superem os R$ 80 mil mensais, ou 0.5 MW de demanda contratada.
No entanto, as razões para migrar vão muito além da economia. No mercado livre de energia, os contratos têm preço fixo, ou seja, são previsíveis. Em um país como o Brasil, onde o setor elétrico tem sofrido com uma enorme variação tarifária, conforme a época do ano, essa é uma grande notícia. Ao contrário do que ocorre no mercado tradicional, os contratos do mercado livre não estão sujeitos à variação de preços das bandeiras amarela e vermelha, decretadas pelo governo nos momentos de pouca chuva sobre os reservatórios das hidrelétricas, quando as onerosas termelétricas são acionadas, encarecendo a energia. No mercado livre, os contratos são reajustados apenas anualmente, por um índice de inflação acordado pelas partes.
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Há outras vantagens importantes para quem opta por migrar para o mercado livre de energia. A começar pela possibilidade de escolha sobre a origem da energia a ser consumida. Ou seja, o consumidor livre pode escolher de qual fonte geradora específica deseja contratar a energia. Entre as opções estão as fontes tradicionais – como grandes hidroelétricas e termoelétricas a gás – e as energias renováveis, como eólica, solar e termoelétricas a biomassa de cana. Estar no mercado livre significa, portanto, pode optar por fontes mais limpas, que emitem menos gases de efeito estufa sobre a atmosfera. Ou seja, determinar que o consumo seja ambientalmente mais consciente, limitado a fontes como energia eólica, solar fotovoltaica, biomassa, ou, ainda, proveniente de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Essa escolha pode e deve constar dos relatórios de responsabilidade social dos hospitais, comprovando a sua contribuição no esforço comum para a sociedade atingir patamares de maior sustentabilidade ambiental.
Apenas a título de exemplo, em 2017, os clientes da Comerc Energia que consumiram fontes de energia renováveis evitaram a emissão de 378 mil toneladas de gás carbônico (CO2), o que equivale ao reflorestamento de uma área com mais de 3,3 milhões de árvores, ou 2,55 mil campos de futebol, por mais de 30 anos. O cálculo foi feito pela consultoria Sinerconsult, especializada em quantificar os impactos ambientais da liberação de gases de efeito estufa na atmosfera. A metodologia usada para esse cálculo está baseada no protocolo GHG, ou Greenhouse Gas Protocol. É importante frisar que no mercado cativo essa escolha não é possível. Nele, quando um hospital compra sua energia de uma distribuidora de energia local, a unidade consumidora acaba pagando pela energia gerada por uma mistura de fontes, que pode incluir, por exemplo, usinas termoelétricas (a base de petróleo, gás, carvão ou nuclear) e usinas hidrelétricas convencionais, muito mais poluentes que as fontes de energia renovável.
O mercado livre permite, por fim, algumas práticas impensáveis no mercado cativo. Uma delas, específica do segmento de hospitais, é o projeto Energia do Bem que beneficiou o Hospital de Câncer de Barretos (HCB), que está no mercado livre desde 2012 e cujo consumo mensal está na casa dos 2,5 MW. Usinas de biomassa à base de cana de açúcar, pertencentes à região em que suas unidades estão localizadas, doaram ao HCB, até o final do ano passado, 16.200 MWh. Cada megawatt-hora doado representou uma economia de R$ 250,00 na conta de energia do hospital. Neste caso específico, a Comerc Energia, que conduziu sua migração, também apoiou o hospital em um processo inédito de “arrecadação” de energia. No total, a migração para o mercado livre, aliada às doações das usinas de sua região, proporcionaram uma redução média de 30% na conta de energia do hospital, ou uma economia acumulada, até maio deste ano, de R$ 6,7 milhões.
Em resumo, o mercado livre de energia para hospitais pode ser uma opção de comprar energia mais limpa, mais barata, a um preço fixo. E, de quebra, ainda abre a possibilidade para que hospitais busquem usinas parceiras que doem energia, abatendo significativamente os valores pagos em suas contas de luz.
(*) Aderbal Aragão é diretor Comercial da Comerc Energia.