Pedro Franklin, diretor da Comerc Gás, analisa plano de negócios da companhia
Diante das incertezas na economia mundial e da extraordinária queda nos preços do petróleo devido ao excesso de oferta, a Petrobras divulgou o seu plano de negócios e gestão para o período de 2017 a 2021. Mesmo com o cenário adverso, com direito a estagnação das economias europeias e japonesas, desaceleração da China, conjuntura no Oriente Médio e eleições nos Estados Unidos, a companhia consegue vislumbrar uma luz no fim do túnel.
Para dar uma ideia do tamanho do desafio de encontrar essa saída: a Petrobras é a empresa de óleo e gás mais endividada do planeta, com uma dívida bruta de US$ 132 bilhões em 2015. No mesmo ano, a companhia voltou para o grau especulativo e seu custo de captação saltou de 4,0% para 8,6% ao ano desde 2011. Ao mesmo tempo, as disputas judiciais de acionistas americanos são preocupantes.
A boa notícia é que a escuridão do túnel pode estar ficando para trás. A visão apresentada pela Petrobras no plano de negócios é de uma empresa integrada de energia com foco em óleo e gás, orientada por resultados. O plano proposto é ambicioso. A alavancagem (dívida liquida/EBITDA) da companhia deve reduzir para 2,5 até 2018, após atingir 5,3 em 2015. Os desinvestimentos previstos para 2017-2018 são de US$ 19,5 bilhões. Com isso, a companhia está saindo integralmente da produção de biocombustíveis, distribuição de GLP, participações em petroquímica e produção de fertilizantes.
A partir de 2017, os investimentos estarão concentrados na exploração e produção (82%) e refino e gás natural (17%) e serão reduzidos em 25% em relação ao plano anterior. Essa decisão indica uma busca por eficiência – apesar da grande redução nos investimentos, a produção deve ser mantida no mesmo ritmo. De 2010 a 2016, a produtividade dos poços aumentou em 30%, enquanto seu tempo de construção caiu de 310 dias para 89 dias. Com a receita operacional e a venda de ativos previstos, não serão necessárias novas captações no período de 2017 a 2021. Os custos operacionais também estão em queda. O custo de extração deve reduzir de US$ 14,6/boe (barril de óleo equivalente), em 2014, para US$ 9,6/boe, a partir de 2017. No refino, também está previsto uma grande redução nos custos operacionais, de US$ 490,00/UEDC para US$ 290,00/UEDC. (Capacidade de destilação equivalente utilizada.)
A Petrobras declarou que será um player relevante em gás natural e o considera o combustível de transição para a energia renovável. Está desverticalizando a sua operação e destacou que existem desafios regulatórios, fiscais e tributários a serem superados.
Os riscos envolvidos no plano são muitos, como falta de recursos suficientes e mudanças imprevisíveis nas condições de mercado, mas, segundo a proposta apresentada, estão todos mitigados por iniciativas diversas. Apesar de desafiadoras, as propostas parecem plenamente factíveis, principalmente se for mantida a posição atual de uma gestão orientada por resultados. As perspectivas são otimistas. Resta a nós acompanhar com esperança a implantação das medidas anunciadas.
*Pedro Franklin é Diretor da Comerc Gás, do Grupo Comerc Energia