O preço horário já é uma realidade em muitos países. No Brasil, esse modelo será realidade em 2021. De acordo com Luiz Barroso, presidente da Consultoria PSR, o principal motivo para essa mudança é a atualização da matriz energética do nosso país.
No final da década de 90, as usinas hidrelétricas eram dominantes. Cerca de 95% da potência instalada no Brasil eram provenientes de fontes hídricas. Hoje, a participação dessa fonte é de 63%.
“As hidrelétricas são flexíveis e podem ser acionadas a qualquer momento, dependendo do nível dos reservatórios. Por isso, a formação de preço era de intervalos maiores, já tivemos preços mensais, semanais e por patamares de carga. Isso foi feito porque o custo era muito baixo”, explica Barroso.
Com o passar dos anos, as renováveis ganharam força na nossa matriz energética e a geração depende de variáveis. A solar, por exemplo, gera energia durante o dia e a eólica predomina no período noturno. Por isso, aumentou o interesse do setor em acelerar a implantação do preço horário.
O principal objetivo desse modelo é precificar o real valor da energia quando ela é gerada e consumida. No Brasil, o horário de maior consumo de energia é durante o horário comercial. Sendo assim, a energia gerada nesse intervalo de tempo deve ser precificada de modo diferente da gerada no período noturno, quando o consumo é mais baixo.
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A discussão sobre a implantação do preço horário no Brasil começou em 2017 e envolveu todos os órgãos reguladores do sistema. No dia 31 de julho deste ano, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou o cronograma. Em 2020, o sistema vai adotar o novo modelo de precificação, o Dessem, e, em 2021, o preço horário será operacionalizado.
“Foi bastante acertada essa decisão de deixar um ano para o mercado se adequar. No fim, todos vão observar que vai trazer uma melhoria para o setor elétrico, uma vez que aproxima a operação do preço, a expectativa do despacho da operação real, melhora a precificação da energia e contribui para desenvolvimento e competitividade do mercado”, reforça Ana Carla Petti, presidente da MegaWhat, empresa de inteligência em energia da Comerc que será lançada ainda em 2019.
Os modelos para formação de preço de energia atuais são o Newave e Decomp. O Newave é o modelo que forma preços a longo prazo, olhando para 5 anos a frente. Já o Decomp, olha 2 meses para frente e em uma escala semanal. O Dessem é o modelo que será usado para formação do preço por hora.
“Os outros modelos de preço continuarão sendo usados. O Dessem será mais um modelo agregado a essa cadeia para otimização do despacho do sistema elétrico”, explica Ana.
O que vai mudar para o consumidor livre?
Ao fechar um contrato de energia, o consumidor livre tem três ferramentas contratuais importantíssimas: a flexibilidade, a sazonalização e a modulação.
Entenda o que é sazonalização e flexibilidade com um vídeo do Comerc Explica.
A sazonalização é uma variação da distribuição de um montante do consumo de energia entre os meses do ano. Ou seja, o consumidor define quanto consome de energia em cada mês do ano. Uma fábrica, por exemplo, precisa prever quais meses do ano tem maior produção e, consequentemente, maior consumo.
A flexibilidade permite que o consumidor coloque uma margem de consumo para menos ou para mais do que foi definido no contrato.
Já a modulação é a cláusula que distribui o consumo de energia nas horas do dia. Dessa forma, ele prevê quais horários consumem mais.
De acordo com os especialistas, o modelo de preço horário poderá trazer novos produtos para o setor elétrico. As empresas precisarão investir nos sistemas de precificação, na gestão da informação e têm um grande desafio de tecnologia da informação pela frente.
“Precisará ter um alinhamento entre o interesse de cada consumidor e do sistema. Isso é fundamental. O sistema vai sinalizar os horários de maior estresse e o consumidor pode adaptar sua produção e flexibilizar seu consumo de energia”, ressalta Luiz Barroso.
Os geradores também precisarão se adaptar ao novo modelo. Todas as fontes serão impactadas, principalmente as renováveis, que dependem de variáveis para gerar energia e não podem ser despachadas a qualquer momento.
Com isso, as comercializadoras de energia terão um papel fundamental para oferecer segurança e soluções para essa nova realidade.
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