A crise macroeconômica que ditou o ritmo de diversos segmentos no país em 2015 também deixou suas marcas nos principais indicadores do setor elétrico. O maior exemplo da influência é visto na carga de energia no Sistema Interligado Nacional (SIN), que atingiu aproximadamente 64 mil MWm no ano, com redução de 2% em relação à verificada em 2014 e de 4,8% em comparação com as projeções estimadas pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) no começo de 2015.
O pico foi registrado em janeiro, quando as altas temperaturas e os preços das tarifas ainda reduzidos estimulavam o consumo de energia. Foi possível observar diminuição da carga ao longo do ano, com menores montantes de abril a agosto, período no qual as temperaturas mais amenas levam tipicamente à diminuição do uso de ar-condicionado, com impacto direto sobre o consumo de energia. Outro ponto relevante foi o aumento no preço da energia, tanto nas tarifas cativas quanto nos valores praticados no mercado spot.
A crise também interferiu, ainda que indiretamente, no nível dos reservatórios nos quatro submercados do país. Os volumes de chuvas e vazões são os maiores responsáveis pelas oscilações, porém os níveis poderiam estar ainda mais baixos em grande parte das regiões caso a atividade econômica estivesse aquecida e o consumo de energia tivesse sido maior em 2015.
O submercado Sul foi o que apresentou cenário mais confortável, principalmente no segundo semestre, resultado de regime abundante de chuvas no período, aliado à redução na carga, que garantiu um fechamento do ano com níveis próximos a 100% da capacidade total.
Já o Sudeste Centro-Oeste teve níveis abaixo de 37% o ano todo, devido ao baixo desempenho hidrológico. A situação mais crítica foi vivenciada no Nordeste, que encerrou 2015 com apenas 5% de água nos reservatórios e não ultrapassou os 28% em todo o ano, consequência do baixíssimo volume de chuvas na região. O Norte também finalizou 2015 com baixos níveis de reservatórios, em cerca de 15% da capacidade. O submercado chegou a acumular 83% de água, em maio, mas apurou queda expressiva de setembro em diante, por conta de baixo volume de chuvas, acentuado pelo fenômeno climático El Niño.
O Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) sofreu quedas significativas no segundo semestre de 2015 em todos os submercados. Apesar de os valores terem permanecido estáveis e próximos ao teto até junho, fatores como a recuperação no volume de chuvas em parte do país e a redução na carga influenciaram a queda nos preços.
O preço à vista no Sul apresentou diminuição acentuada, principalmente em função do nível de seus reservatórios, próximo a 100% do total a partir de julho, que indicam alta disponibilidade de energia. Os demais submercados não contaram com a segurança do nível de seus reservatórios, mas tiveram seus preços influenciados pela redução no consumo por energia – resultado da crise macroeconômica – e retomada do volume de chuvas a partir do meio do ano. A exceção fica por conta do Nordeste, que voltou a amargar baixíssimos níveis de reservatórios nos últimos meses do ano, levando à nova alta no PLD da região.
A Energia Natural Afluente (ENA) verificada em 2015 atingiu 83% da Média de Longo Termo (MLT), superior a 2014, quando a ENA alcançou 81% da MLT estimada para aquele período.
As ENAs dos quatro submercados no país tiveram comportamentos diferentes ao longo do ano. As regiões Norte e Nordeste apuraram alta até maio de 2015, seguida de sucessivas quedas até o final do ano – com discreta recuperação em dezembro, no caso do Nordeste.
O submercado Sudeste Centro-Oeste apresentou crescimento gradual nas vazões até maio e alternou períodos de altas e baixas até dezembro, porém terminou o ano com ENA de 102% da Média de Longo Termo (MLT) prevista para aquele mês. Paralelamente, o Sul revelou oscilações mais bruscas durante o ano, apresentando expressivos 294% da MLT prevista para dezembro.