Como a gestão eficiente da energia elétrica reduz os custos de uma empresa
A energia elétrica é insumo essencial para o bem-estar da sociedade. Ela é utilizada em praticamente todas as atividades de uma economia. Atualmente é uma das fontes de energia secundária mais utilizada em todo o mundo, tornando-a de suma relevância para a economia e manutenção de diversos setores, na maioria dos países.
Quando a energia elétrica é um insumo nos processos industriais, comerciais ou na prestação de serviços, ela integra os custos. Por isso, a gestão da energia elétrica torna-se indispensável para melhorar a competitividade da empresa no mercado.
A questão energética está cada vez mais presente nas decisões das empresas, por causa do custo, das implicações climáticas relacionadas às emissões associadas ao consumo de energia elétrica e da preservação do meio ambiente, neste caso devido à necessidade de expansão dos sistemas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica.
Neste artigo, destaca-se a importância de analisar permanentemente as informações contidas nas faturas emitidas pelas distribuidoras, em virtude do contexto acima exposto.
CONSUMIDORES LIVRES E ESPECIAIS
A comercialização de energia no Brasil é realizada em duas esferas de mercado: o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) e o Ambiente de Contratação Livre (ACL). A contratação no ACR, ou “mercado cativo”, é feita por meio de Contratos de Fornecimento entre o consumidor cativo e a distribuidora a qual ele se encontra conectado.
O ACL, ou “mercado livre”, é o segmento do setor elétrico onde as operações de compra e venda de energia elétrica ocorrem por meio de contratos livremente negociados entre as partes, comprador e vendedor. Nesse ambiente, o consumidor livre (1) ou especial (2) pode escolher de quem quer comprar a energia. Independente do ambiente de contratação, o transporte da energia sempre é realizado através das instalações da distribuidora a qual o consumidor está conectado.
O consumidor cativo recebe mensalmente uma única fatura de energia elétrica, emitida pela distribuidora; os consumidores livres e especiais poderão ter várias faturas, conforme abaixo:
CONTRATOS CELEBRADOS JUNTO ÀS DISTRIBUIDORAS
Os consumidores livres e especiais devem celebrar dois contratos com a distribuidora:
O CUSD, além das cláusulas essenciais aos contratos administrativos, deve conter outras, em que se destacam a modalidade tarifária; o Montante de Uso do Sistema de Distribuição (MUSD) contratado, especificado por segmento horo-sazonal, quando for o caso; e as condições de aplicação da tarifa de ultrapassagem (do MUSD contratado).
ENCARGO DE USO DO SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO (CUSD)
Este encargo corresponde ao valor devido pelos consumidores livres e especiais às distribuidoras pelo uso das instalações de distribuição, em base mensal, observando-se que:
a) Os valores da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (TUSD) são publicados anualmente pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
b) Os Montantes de Uso do Sistema de Distribuição (MUSD) associados às unidades consumidoras são determinados pelos maiores valores entre os contratados e os verificados por medição, por ponto de conexão, em cada período tarifário.
De forma simplificada, o EUSD (sem tributos) é calculado pela seguinte fórmula:
EUSD = [ TUSDfio-p * MUSDp+ TUSDfio-fp * MUSDfp] + [TUSDenc-p * Cp + TUSDenc-fp * Cfp ]
Onde:
TARIFAS APLICÁVEIS AOS CONSUMIDORES FINAIS
Cabe à ANEEL estabelecer tarifas que assegurem ao consumidor o pagamento de uma tarifa justa, além de garantir o equilíbrio econômico-financeiro da distribuidora para que ela possa oferecer um serviço com qualidade, confiabilidade e continuidade necessárias.
Algumas distribuidoras atendem a mercados concentrados, onde se verifica a existência de elevado número de clientes numa área geográfica pequena. Isso possibilita economia de escala no atendimento. Outras atendem a mercados dispersos, em regiões com baixa densidade demográfica, o que requer a implantação de longos sistemas elétricos de distribuição para chegar a poucos consumidores, com cargas de pequeno porte. Esta especificidade, dentre outras, influencia o valor da tarifa.
Para ilustrar, o gráfico abaixo mostra o ranking do custo com o “fio” para o consumidor livre em diversas distribuidoras do país. O “fio” corresponde ao valor (em R$/MW) resultante da divisão do EUSD (neste caso, calculado sem os tributos, para um consumidor com Fator de Carga igual a 0,60 na ponta e fora de ponta, contratado na modalidade tarifária azul (3) ) pelo consumo total:
PERFIL DE CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA
As instalações industriais, comerciais e de serviços possuem diversas cargas elétricas instaladas e características próprias de funcionamento. O somatório da potência, em kW, dessas cargas nos dá uma ideia da potência instalada. Porém, nem todos os equipamentos funcionam ao mesmo tempo.
Um dos índices de avaliação do uso eficiente de energia elétrica pelo consumidor é o Fator de Carga (FC), definido como a razão entre as demandas média e máxima da unidade consumidora no mesmo intervalo de tempo especificado. O FC é um índice adimensional que vai de 0 a 1 – quanto mais próximo de 1, melhor a utilização da eletricidade.
GESTÃO DOS CUSTOS COM ENERGIA ELÉTRICA
Conhecer o perfil de consumo de energia elétrica de cada instalação, compreender as modalidades tarifárias disponíveis e a forma como são cobrados os valores expressos nas faturas emitidas pelas distribuidoras são fatores importantes para a tomada de decisão sobre a melhor forma de contratação junto à distribuidora.
Entende-se como melhor opção a modalidade tarifária que resulte no menor valor de Encargo de uso do Sistema de Distribuição – EUSD. A seguir, apresentamos alguns conceitos importantes para a otimização dos contratos celebrados entre os consumidores livres e especiais e as distribuidoras:
Por meio da análise das informações de consumo e demanda extraídas das faturas das distribuidoras, considerando um número de meses suficiente para capturar as variações sazonais (em geral, 12 meses), é possível estudar a relação entre hábitos e consumo de uma dada instalação.
O resultado deste estudo também é importante para verificar se o contrato entre consumidor e distribuidora está adequado e obter uma base de dados para comparação futura do consumo de energia elétrica.
O MUSD e a modalidade tarifária contratados estão intrinsecamente ligados. Desta forma, o modelo matemático utilizado para encontrar os parâmetros ideais de contratação deve considerar as relações entre as variáveis.
Para uma redução de 25% do MUSD contratado na ponta, teríamos uma redução do custo do “fio” de cerca de 14%.
Sem qualquer alteração no processo produtivo, seria possível reduzir o custo com o MUSD em cerca de R$ 43.660/ano (que corresponde a 13,7%) com um simples ajuste dos valores contratados.
Nem sempre um processo industrial, comercial ou de serviços tem flexibilidade para alterar o MUSD contratado. Cada unidade consumidora requer uma análise específica.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
A gestão da energia elétrica é um processo contínuo, que requer reavaliações constantes devido à sua dinamicidade. Reduzir e otimizar o consumo de energia elétrica e, por consequência, os custos associados, deve ser um objetivo permanente. A COMERC e sua equipe de gestão estão à disposição para auxiliar seus clientes.
Termos técnicos assinalados no texto: